29 de out. de 2010

Seu olhar maquiado pela máquina - Vinícius Albanez Ricci

O movimento é lento no quarto hospitalar, todos nós somos médicos e não há um cheiro forte predominante no ambiente. As marcas dos outros corpos estão por todo lugar, na parede, no chão e até em nós. Podem achar que essas marcar serão eternas, mas ninguém sabe se elas continuarão ali depois de apagarem a luz. Alguns nem sabem o que elas realmente representam, alguns nem sabem o que elas realmente são. Algo do tipo William Blake, ou Burne Jones, algo que você espera que perdure para sempre, mas que tenha a mesma função, fundir o criador e a criação. Mas será que você consegue fazer uma barganha, para se livrar do seu próprio corpo? O que há dentro de você é um reflexo do que os outros vêem. Mesmo que você se importe com que os outros falem, você não é capaz de tirar de si, arrancar da maneira mais louca, o que você é. Não sei se estava mesmo lá, se era ciência ou imaginação. Eu via fantasmas, via corpos se debatendo, eu ouvia música e sons inexplicavelmente perturbadores, de ferir a alma, sons nostálgicos de reflexão e música, de uma voz forte e suavemente doce. Focava-me pouco a pouco em cada momento, tentava tirar de mim o que eles insistiam em colocar, até que me rendi. Vi e vivi de tudo naquele porão, senti medo, fiquei em silêncio e hipnotizado. Antes mesmo que pudesse sair, começaram a bombear milhões de informações, fique desesperado, não sabia para onde olhar, não sabia o que selecionar para escutar, não pude me focar, meu corpo estava pronto para a explosão e “blackout”. Terminou em aplausos, mas nossas almas lá ficaram, dentro dos projetores, para que a dança possa fundir nossas experiências com outras.

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