1 de ago. de 2010

Proposta lançada

OLHO integra o projeto "Poeira de Estrelas" do Grupo Minik Momdó, realizado atráves do 8º Programa Municipal de Fomento à Dança, e tem como objetivo aproximar a dança e as artes visuais. A proposta inicial é pesquisar a relação do corpo com sua prória imagem através de vídeo instalações. O desdobramento deste ponto de partida é a multiplicação por uma grande diversidade de mídias e autores.

Trata-se de um projeto híbrido, formado por um conjunto de ações em torno da dança: um grupo de estudos, uma exposição, um espetáculo, sessões interativas, e o compartilhamento do processo pela internet. A concepção geral e condução do processo, que em todas as suas instancias se faz de modo colaborativo, é de Marcio Marques.

Executar o OLHO no espaço expositivo da Galeria Olido confere ao projeto um caráter de site-specific, uma vez que relaciona as duas atividades artisticas as quais o prédio da sede da Secretaria Municipal de Cultura se dedica, tomando como tema seus elementos mais fundamentais: o corpo, em relação à dança e a visão, em relação às artes visuais

A estrutura inicial do projeto é um conjunto de video-instalações imersivas concebidas especialmente para dança. A presença física de um corpo é imprescindível para o funcionamento das instalações, criando circuitos fechados que interferem poeticamente na arquitetura do espaço ocupado. A criação de visualidades híbridas e efêmeras, visíveis apenas pelo jogo de espelhamento entre máquina e corpo, visa salientar o caráter descartável da individualidade e enfatizar os aspectos relacionais do corpo. O objetivo principal é estabelecer um campo expressivo entre o corpo, a tecnologia e o espaço, meios entre os quais a visualidade se forma.

As instalações serão ocupadas numa performance que será tomada como matéria prima para que desenhistas, fotógrafos e video-makers produzam trabalhos pessoais, estendendo o instante fugidiu da dança a outros suportes. Estes trabalhos irão compor uma exposicão que acompanha as apresentações como um cenário em work in progress, num procedimento acumulativo em que diversos pontos de vista e modos de representação se sobrepõe ao acontecimento da dança.

Na exposição, além de apreciar as fotos, desenhos e videos os visitantes poderão experimentar na própria pele os efeitos visuais das intalações que permanecerão disponiveis para interacão durante o horário comercial.

A concepção original deste projeto surgiu do interesse em pesquisar as diferentes concepções de corpo encontradas ao longo da história da arte, e também em rever o início do desenvolvimento da linguagem audiovisual, especificamente a transição entre a fotografia e o cinema, além de investigar os jogos ilusionistas conseguidos com reflexos, sombras e espelhos que compunham os efeitos especiais do teatro neste período. As pesquisas de visionários do século XIX, como Daguerre, Marey e Muybridge, marcadas pelo desenvolvimento tecnológico, explicitando a visão de mundo que formavam essas primeiras imagens, inauguraram uma nova visualidade que liberou a arte para outros modos de representação do real. As instalações colocam o corpo neste contexto, em que a imagem se forma num cruzamento entre o científico e o imaginário. Nosso tema se configura então como um jogo entre a visão e a aparência do corpo, o que nos leva às idéias de auto-imagem, propriocepção e fetichismo.

Em relação à linguagem de vídeo, nosso ponto de partida para a pesquisa será a interação da câmera com o intérprete, aplicando as dinâmicas de Laban para a operação da câmera e também para a própria projeção. As imagens se descolarão do corpo numa segunda dança, percorrendo o espaço criando coreografias autônomas que transfiguram o ambiente.

Nas apresentações duas duplas de performers atravessam as instalações, se revezando nas funções de dançarino e operador de câmera, confundindo os papeis de observador e observado. Essa alternância distribui a atenção do público visitante entre o que seria o produto artístico e o seu making of, equiparando em relação a formação da imagem, os movimentos expressivos da dança e os movimentos funcionais da manipulação técnica dos equipamentos.

Alem desta relação entro o corpo e o ambiente, consideramos ainda a relação do observador com seu objeto, figurada através da produção dos artistas visuais realizadas ao vivo a partir das impressões efêmeras da dança segundo suas pesquisas poéticas pessoais. De modo que apresentamos um sistema completo, equiparando o produto artistico a todo o processo de produção, num procedimento em que todas as partes contribuem em grau de igualdade para a formação de um sistema.

A dança, o vídeo e os "registros poéticos", serão construídos em tempo real, atualizando num procedimento performativo reflexões sobre a história da imagem, nos seus sentidos físico, cognitivo e cultural. De maneira que o projeto Olho, não se caracteriza somente como um espetáculo de dança contemporânea ou uma exposição de artes plásticas mas como uma proposta aberta a interferência de autores e de linguagens diferentes para que se crie um sistema em que cada parte pode ser considerada o tema , o processo ou o resultado da arte.

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